Sobre Procrastinação e demandas sociais por produtividade

Procrastinar significa adiar ou deixar para depois tarefas importantes e de muita responsabilidade, provocando um adiamento não-estratégico destas, o que costuma trazer consequências negativas para os sujeitos. Pelo olhar da psicanálise, podemos observar que na procrastinação existem duas forças em conflito: uma força que está a serviço do princípio do prazer e que busca uma satisfação instantânea, e outra a serviço do princípio da realidade que diz do que é necessário para o sujeito, porém, menos gratificante. A força que busca gratificação instantânea é sempre mais forte, e com isso as tarefas menos gratificantes, ou que exigem algum esforço físico ou intelectual, são sempre adiadas.
É possível perceber na prática clínica que tem sido cada vez mais recorrente um sofrimento dos pacientes frente à procrastinação, que não encontram paz com as inúmeras tarefas pendentes, o que gera um constante sentimento de culpa. O ritmo de vida hoje, que impõe uma forte pressão por produtividade e alto nível de estimulação mental, impactam ainda mais na vida das pessoas, influenciando no aumento de uma culpa por não conseguirem atender a esse modelo de vida contemporânea que coloca altos padrões de exigência para a realização das tarefas, na busca pelo perfeccionismo e críticas exageradas e que a procrastinação representa fracasso, inutilidade e improdutividade.
É possível identificar alguns impactos negativos da procrastinação além do sentimento de culpa como agitação, esgotamento emocional, frustração, preocupação, vergonha, dentre outros. E a terapia representa uma importante ferramenta de análise desses processos mentais que impactam nossas vidas e trazem prejuízos em diversos âmbitos da vida.